07 outubro 2011

Cartas para o Dr. Anjo - parte III



Todos estavam torcendo para a segunda-feira chegar e eu receber alta. Menos eu. Eu sabia que em casa eu podia ter todo o cuidado do mundo, mas não ia mais ter aqueles sedativos, eu só dormia por causa deles. Era bom também porque eu não ia ficar mais com aquela agulha IMENSA, mas não ia mais tomar remédico na veia pra dor, o que aliviava e muito meus estresses diários. Mais ou menos, 11 horas da manhã o Dr. chegou. Ele tinha pentiado o cabelo. Coisa que eu estranhei. Ele também estava muito sério. E ele também não falou in english. Pronto, vou morrer.

- O que foi?
- Nada.
- Você não falou em inglês, você pentiou o cabelo e você não sorriu, e você também não falou comigo. Ou seja: ALGO DE MUITO RUIM TA ACONTECENDO. Pode dizer logo, eu mais do que ninguém mereço saber de alguma coisa.
Abrindo um parêntese.
( Num momento desse faça tudo, menos ficar em silêncio. Coisa que ele fez.)
Fechando parêntese.

Saiu da sala e me deixou lá. E eu fiz o que? Chorei. Me acabei. Chamei mil enfermeiros. E veio uma que eu nunca tinha visto.
- Vou tirar seu sangue tá?
- Tá.

Em menos de 3 minutos ela fez isso,admiro gente competente. Logo depois veio o enfermeiro meio alegre... 
-Olhe você vai tomar sangue?
- QUE?
- Mais eu ja tomei 2 bolsas de sangue.
- 4 minha querida. Vai pro 5º agora.
Meu braço que antes era uma vela, agora tava roxo. Horrível. Depois eu dormir. Todo mundo amava fazer com que eu durmisse. E fora que eu passei 4 dias tomando suco. Imaginem de que... de maracujá, exatamente. Eu fiquei triste com o Dr. , duas enfermeiras chegaram e eu tava de olho aberto, e ficaram cochichando.
- Essa menina não dorme?
- É preciso vir de meia em meia hora, vou aumentar a dosagem.

Ai eu falo: Se você fizer isso, eu te denuncio. E começo a gritar também. ¬¬
- Mas eu pra você ficar melhor. Lá vem ela com a agulha. Dormi...
Quando o Dr. Valmir chegou olhou pra mim, deu um sorriso meio preocupado. E me perguntou: Você tá conseguindo comer?
- Não... Como uma colher de arroz e fico cheia ... Já estou sentindo fome.
- Seu nervo, tá inflamado. Não pode comer muito, se não pode ficar sem ar.
- ¬¬ Dr. minha coluna tá retinha agora?
- Tá. Só não tirei as duas costelas poque você teve a convulsão e as paradas cardíacas na hora da cirurgia. Ah... mechi no seu ombro também, dei uma levantada, e coloquei dois parafusos a mais que o pedido.
- Ah...
Ele soltou uma risada. Venho aqui pra me divertir contigo.
Ele me deu alta. Chorei me despedindo do enfermeiro alegre, da moça que tirava minha pressão toda hora,da zeladora que era um amor. Depois o diretor do hospital veio falar comigo, me senti tão importante. Enquanto ele falava, falava, falava... Eu lembrei do senhor que ia fazer uma cirurgia no coração que tava indo comigo no corredor enquanto eu ia pra sala de cirurgia. Ele se calou... E eu chorei. 
- Viu? Ele não esculhambou aquela enfermeira, e ela deixou ele morrer. Odeio aquela mulher.
Saí triste. Fui andando. Exatamente. Com 4 dias de cirurgia na coluna. Eu estava andando. Cheguei  em casa, quem ficou mais feliz em me ver foi o Freud,ficou tão feliz que fez xixi no sofá. Aqui em casa as horas não passavam. Passava o dia assistindo televisão, deitada, ou então conversava com quem vinha me visitar. Danilo sempre vinha aqui. E acreditem, eu fazia um esforço enorme pra que quando ele chegasse, meu cabelo tivesse sido enxuto no secador. Meus amigos vieram, familiares, amigas da minha vó, eles traziam de tudo, mas eu não aguentava comer por causa do bendito nervo. ¬¬
Eu não dormia. Não conseguia. Sentia dores fortíssimas. Não conseguia me levantar sozinha da cama, mas entrei em um desespero tão grande, que fiz um esforço sobrenatural pra levantar, liguei pro Dr. Valmir 2 horas da manhã, dizendo que não aguentava mais as dores,e que ia morrer. Daí meu paidrasto saiu 4 horas da manhã pra comprar um encosto, e o remédio que o Dr. passou. Exatamente ele saiu da casa dele, pra deixar a receita do remédio no consultório, pro meu paidrasto pegar.
Abrindo um parêntese.
(Onde está seu pai na história Andressa?
- Quem?)
Fechando parêntese.
Eu não lembro, mais ele chegou aqui com umas 4 caixas de remédio. Nesse dia foi gasto mais de 400 reais somente com essas 4 caixinhas de remédio. 1 único comprimido, tinha 300 mg de paracetamol. (Reflita) Dormia como nunca... Uma vez, eu lembro que tomei o remédio quando o Danilo tava aqui, ele falou: vou aqui na cozinha, comer alguma coisa. Eu só lembro disso... acho que uns 5 min. depois eu tinha apagado. Minha vó e meu cachorro não arredaram o pé de perto de mim. Minha mãe ia trabalhar quase morrendo, meu paidrasto igualmente, o Dr. Valmir me ligava de 3 em 3 horas pra saber como eu tava.
Até que um dia, eu tava com a minha vó.Ai senti uma dor, que eu pensei: Meu Deus, eu não aguento mais sentir tanta dor, se for pra eu morrer, que eu morra logo, não quero dar mais trabalho a ninguém. Eu desmaiei de dor. Quando acordei tava todo mundo aqui. Depois eu começei a gritar. Minha mãe saiu de casa pra chorar. Minha vó ficou do meu lado e meu cachorro subiu na cama e olhou pra mim como se dissesse: estou aqui também. Eu não sabia que o Danilo tava na sala. Tempos depois que eu parei de gritar ele chegou no quarto.
- Porque que quando eu te ligo tu diz que ta tudo bem Andressa? Porque tu ta mentindo pra mim, pelo amor de Deus?
- Eu não to mentindo, quando você me liga tá tudo bem.
- Vou passar o dia no telefone contigo.
- Tá.

E assim meus caros leitores, eu passei 21 dias nessa agonia desesperadora. E decidi que ia abrir mão de viver. Já que morrer era fácil e difícil mesmo era continuar vivendo naqueles dias.
E abri mão. Deixei de comer, deixei de tomar remédio.  Mandei mensagem pra todo mundo. E assim fiz um esforço sobrenatural pra me levantar, tomar banho, enxugar meu cabelo, passar delineador e esperar, vocês sabem quem.
Daí ela não veio. Quem veio foi o Dr. Valmir. Me dar uma lição de moral. Dai eu somente o abraçei e agradeci pela existencia dele. Pela calma dele. Pelo cabelo assanhado dele. E por ele ser o melhor médico do mundo. E por ele fazer a maior dor ir embora, que não eram as dores na coluna, eram as dores existenciais.

8 comentários:

  1. Oi,Flor!Nossa que punk tudo isso guria.Nessas horas eu sempre lembro da frase que a mniha mãe sempre diz Deus nunca nos dá a cruz mais pesada do uqe podemos suportar e se Ele te deu essa cruz é porque Ele sabe que tu és uma menina forte, guerreira e que vai lutar sempre pela vida.
    Beijosss

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  2. fazer para de doer
    infelizmente
    apenas vai passar
    vai doer até onde
    você deixar.
    lindo final de semana
    desculpe a demora
    tava sem net
    bjs

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  3. Querida ótimo final de semana!
    Desculpa se não tenho passado por aqui, to cheia de trabalhos de cursos e escola...
    Deus abençoe
    http://asoonhadora.blogspot.com

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  4. Você é especial amiga, como não amar você e querer que você viva? Você não me contou nada disso :( Mas bom saber que tu é forte para sobreviver, e vive qualquer coisa ;)

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  5. ótima história....Eu só achei difícil de ler por causa da cor da fonte (cinza) =/

    ah,estou seguindo ;)

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  6. Mulher de fibra, tu.

    Não tenho mais palavras, todas se fazem desnecessárias.

    Um beijo.

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  7. Que história de tirar o fôlego...Como Deus é maravilhoso,né??Acompanhei desde a primeira parte,li a segunda agora também.
    Obrigado por compartilhar conosco!!!

    Beijos,fica bem!!!

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  8. também nao me contou nada disso ne? raaaaam :@
    é louca nos deixar sem voc?

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